FREUD E SONHO
O estudo dos sonhos representa uma grande oportunidade de exploração da relação
entre corpo e mente para a teoria psicanalítica segundo Freud.
A teoria freudiana sobre os sonhos
“A Interpretação dos Sonhos”, de 1900, é considerada a primeira obra propriamente
psicanalítica de Freud. Nesse trabalho particularmente no capítulo VII, já se encontra
uma teoria geral do aparelho psíquico, formulada a partir dos estudos de Freud sobre os sonhos, que são, segundo ele, a “via régia” de acesso ao conhecimento do inconsciente na vida mental.
Para Freud, o sonho constitui uma realização (disfarçada) de um desejo (reprimido). Possui um conteúdo manifesto, que é a experiência consciente durante o sono, e ainda um conteúdo latente, considerado inconsciente.
Este é composto por 3 elementos:
1) as impressões sensoriais noturnas (por exemplo, a sensação de sede durante o sono),
2) os restos diurnos (registros dos acontecimentos) da véspera
3) e as pulsões do id (relacionadas a fantasias de natureza sexual ou agressiva).
Na perspectiva psicanalítica elementos do sonho latente tendem a fazer o indivíduo despertar. E durante o sono, em função da completa cessação da atividade motora voluntária, a repressão está enfraquecida, o que aumenta a possibilidade de as pulsões terem acesso à consciência. Todavia o sonho atua como “o guardião do sono”.
Em função de uma solução de compromisso entre o id e o ego – que é a instância que exerce a repressão – é permitida uma gratificação parcial das pulsões, diminuindo a força delas e, consequentemente possibilitando que o indivíduo continue a dormir.
Seguindo o pensamento de Freud, o conteúdo manifesto dos sonhos é aparentemente incompreensível porque consiste numa versão distorcida do conteúdo latente. Essa distorção se dá, em primeiro lugar, porque no sono há uma profunda regressão do funcionamento do ego, que faz com que prevaleça o processo primário do pensamento.
Entre o inconsciente e o consciente existiria uma instância censora, que
deliberadamente disfarçaria o conteúdo do sonho, para que o sonhador não reconheça sua origem pulsional, proibida.
Os sonhos refletiriam não só os desejos e as defesas pulsionais, mas a atividade mental como um todo, e teriam inúmeras outras funções além de descarga (da energia psíquica), como a solução de problemas (intelectuais ou emocionais) criatividade, autoconhecimento, integração da mente, adaptação, aprendizagem, neutralização do estresse, entre outras.
Uma pesquisa feita com estudantes norte americanos e sul coreanos em 1989 mostrou que a maioria se identificou de que os sonhos revelam verdades ocultas, fazendo aflorar emoções reprimidas. Seguindo essa linha as ideias freudiana começaram a ser testadas cientificamente e um dos exemplos mais impactantes foi a demonstração de que a limitação consciente de memórias indesejadas descritas por Freud é um fato cerebral quantificável, ou seja experimentos de imagens por ressonância magnética funcional publicados na revista Science, por dois grupos independentes de pesquisas mostraram que a supressão de memórias indesejadas corresponde a desativação de duas regiões cerebrais dedicadas ao processamento de memórias e emoções o hipocampo e a amigdala, essa desativação é proporcional a ativação de áreas do córtex pré-frontal.
Revelou-se assim um mecanismo neurobiológico capaz de explicar de que forma uma memória de início consciente desaparece reversivelmente na amplidão do inconsciente, não exatamente no esquecimento, mas num soterramento. Konrad Lorenz zoólogo e fundador da etiologia e prêmio Nobel de medicina e fisiologia em 1948, alertou a necessidade de levar a sério a psicologia profunda, se referindo a psicanálise.
“Um outro ramo muito mais significativo de investigação psicológica originário da psiquiatria permanece notavelmente isolado e desconectado, embora mereça mais que qualquer outro campo da psicologia ser chamado de científico. por mais que rejeitemos o edifício teórico construído por Sigmund Freud não pode haver dúvida de que foi um observador talentoso que assinalou pela primeira vez certos fatos irrevogáveis e inalienáveis do comportamento humano. “ Sonhar é uma forma de cuidado de nosso aparelho psíquico, o sonho não somente é o guardião do sono como também cria representações para pulsões, afetos, traumas e situações que ultrapassam as possibilidades elaborativas da consciência.
Freud mostrou, com o método psicanalítico, o quanto os sonhos surgem como perguntas preciosas que desafiam o sonhador a uma tomada de posição. Franz Kafka, por exemplo, como muitos outros escritores, tinha o hábito de anotar seus sonhos em seus diários. Assim tinha uma imensa coleção de imagens que certamente lhe serviam como matéria-prima para seus romances.
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